sábado, 26 de dezembro de 2009

Eu não sou quem você pensa!

Eu não sou quem você pensa...

o que eu sou você não advinha, nem em mil anos.
Eu sou o anseio da resposta;
Eu sou a pergunta que não quer calar;
Eu sou a bruxa em busca da vassoura voadora;
eu sou o mar

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Esses tempos...preplexidade

Tempos modernos (embora eu desconheça palavra mais antiga que moderno) onde tudo é o que não parece ser.
Moços tentando parecer criança, descuidados da vida e da maturidade...
Velhos tentando manter-se criança, esquecidos que não há disfarçe para o que se concebe tempo; mulheres tentando ser homens, esquecendo que a fragilidade e a lágrima são apanágios para a sensibilidade e a nobreza...
Homens tentando ser mulheres, esquecidos de que as vezes nós precisamos de um braço forte e de uma feira.
Há, tempos loucos, onde nada está onde deveria e onde tudo o que parece ser, não é.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Oceanos


A minha cabeça está oca, como uma concha vazia; dentro dela reverberam oceanos.
Não é a toa que meu amigo diz:
- Esse povo de Maceió tem mania de mar! Tá alegre? Vai pra praia...
Tá triste? Vai pra praia...é só pra praia, pra praia...
Bem, a gente nasce com os pés no mar. E o nossos cemitérios ficam a menos de uma milha marítima do oceano que nos banha, facilitando, para que os fantasmas dos banhistas não percam o rumo até a praia, que é onde os anjos ficam e Deus, quando está feriando.
E quando nossa cabeça está oca, como a minha está agora, ela tem dentro o barulho do mar.

domingo, 11 de outubro de 2009

Abismo


Eu sei mais da tua humanidade do que você mesmo pensa.
Eu sei que você é humano; eu sei que você, como eu, se entrega quando não há mais jeito e o abismo se abre convidativo, com aquela voz que sussurra: Se joga! Cai! Vem!
Ah! você pensa que eu não sei, quando você se traduz assim pra mim? Eu sei.
É que mais me vale fazer uma piada suja do que dizer a você que eu conheço muitos caminhos e não posso te mostrar nenhum. Que eu podia dizer milhares de coisas mais não fariam sentido algum.
As vezes a acidez é muito mais segura e você sabe disso.
Milhares de vezes mais que a entrega que a gente faz quando não resiste mais.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Á luta feroz


Eu não sei de onde me vem a noção de família. Eu nunca vivi isso.
Para mim família é um bando de gente que se apoia.
Que sabe dos teus defeitos e te defende, mesmo não gostando do que você faz, gosta de você e demonstra isso.
Que fala na tua cara o que pensa sobre você e sobre o que você faz, mas não te emperra, não te amarra e se você escorregar e cair, ainda te ajuda a levantar.
Que se junta no enterro e na festa e ri e chora, nos dois. Mas, que não invade privacidades, nem vasculha segredos.
Que defende namoros, "corta-jaca", faz feitiços e filtros de amor, mas que te consola na dor de cotovelo ou no coração partido. E pelo mesmo sistema afasta pessoas ruins do teu convívio, se essa for a sua vontade. Ou aguenta o "chato" pelo mesmo motivo, com um sorriso e um prato de lasanha no almoço.
Que bebe junta e suporta a "cana" e a ressaca, e não critica depois. Mas, empurra o alcóolatra para o AA, mesmo que seja à força.
Que se protege, mas abre as portas para os que não tem família se abriguem no calor incomparável do amor fraterno.

Nunca vivi isso, nunca tive nada parecido, mas acredito nisso como na minha mão escrevendo esse texto. E tento bravamente que minha filha acredite nisso, embora não tenha parentes que lhe deixar. Mas, tenho fé que um dia ela componha a sua própria família e que seu marido tenha os irmãos e as irmãs que não pude lhe dar. Aposto diariamente todas as minhas fichas, mesmo sabendo que a vida não dá senão o que ela deseja, a quem deseja e se quiser.
Minha tristeza, dessa orfandade de pais vivos, que tenho vivido já a tanto tempo...essa minha solidão de irmãos consanguíneos, só é compensada por que tenho tido a humildade de encontrar mães nas pessoas mais estranhas e pais nos livros, irmãos em amigos e estranhos. Tenho me dado à vida, para que ela possa me retribuir, mesmo um pouquinho.
Considero família a coisa mais importante do mundo, mesmo que ela seja, na pior das hipóteses, você, seu gato e seu cachorro.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009


Preciso Aprender a Ser Só

Elis Regina

Composição: Marcos Valle/Paulo Sergio Valle

Ah, se eu te pudesse fazer entender
Sem teu amor eu não posso viver
E sem nós dois o que resta sou eu
Eu assim tão só
E eu preciso aprender a ser só
Poder dormir sem sentir teu calor
E ver que foi só um sonho e passou

Ah, o amor
Quando é demais ao findar leva a paz
Me entreguei sem pensar
Que a saudade existe e se vem
É tão triste, vê
Meus olhos choram a falta dos teus
Esses olhos que foram tão meus
Por Deus entenda que assim eu não vivo
Eu morro pensando no nosso amor

Por Deus entenda que assim eu não vivo Eu morro pensando no nosso amor Ah o amor Quando é demais ao findar leva a paz Me entreguei sem pensar Que a saudade existe e se vem É tão triste, vê Meus olhos choram a falta dos teus Esses olhos que foram tão meus Por Deus entenda que assim eu não vivo Eu morro pensando no nosso amor

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A insuportável vida sem o Lex

Se eu for tomar Lexotan como eu gostaria, tava ferrada eu e o Papa.
Receitado pelo médico, por que eu não sou doida de me auto medicar, de cajú em cajú eu tomo um Lex. Só quando fico agressiva. Só quando estou em tempo de morder alguém na jugular. Fora isto, apenas meditação.
Já tomei uma porrada de remédios quando estava tão deprimida que morrer era lindo. Mas, consegui controlar isso. Com meditação e, sobretudo, com um sentimento de "demência" diante das coisas fatais.
Minha melhor frase é: Isso é assim mesmo.
Pronto! É assim mesmo e breu. Não tem o que fazer? Tá feito.
Mas, há dias - ai de mim! - em que a vida seria insuportável sem o Lex.
Dias em que nem o mergulho no mais profundo do meu inconsciente poderia me salvar do desespero, nem se o próprio Buda descesse.
Não recomendo a ninguém refugiar-se no mundo tranquilo do Lex, mas recomendo que fale com seu médico e diga a ele que mesmo Pollyana teve seus dias mais sombrios.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Eu não sou quem você pensa.


Eu sou uma pessoa. Tenho defeitos, ilusões e gostos. Tenho desgostos também. Não creio em anjos. Faço apologia de mim mesma, me exponho. Me coloco à força na vida das pessoas, saio da vida das pessoas de forma tão sutil que me acreditam invisível. A voz de Zé Ramalho me comove. Eu me comovo com qualquer beleza crua. Eu me prendo a detalhes mínimos. Eu deixo passar o boi e a boiada, deixo que as jangadas partam para o mar sem fim. Eu abro essa janela para o infinito e não me debruço nela, é só porque eu deteeeeeesto janelas fechadas.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Como gastar pólvora com o cartucho alheio


Quanto mais eu vivo, menos me surpreendo com as pessoas.
Cada um que abra a sua boca e clame a Deus prêmios de que se acha merecedor; que rogue contra a injustiça; que se reconheça grande; que se ache bom! Ou ao contrário, se ache ruim, com a desculpa de que é humano e os humanos são maus.
Pior do que estes é o que faz o bem com moderação, com medo das consequências do bem.
Por que o bem tem consequências.
Você escapa das consequências do mal, se não o praticar, mas não há como o bem para se ramificar, se espalhar...quem faz o bem, sempre é incomodado para tornar a praticá-lo outra vez, e mais uma vez e mais uma.
É uma mera questão econômica! Aliás, é uma questão de se economizar...quem faz o mal se embriaga, mas se cura, normalmente...mas, quem faz o bem - seja em que modalidade - entra numa tal vertigem de visão das circunstâncias que rapidamente se recolhe à própria insignificância.
A visão mais perturbadora é a do sorriso de alegria, de alívio ou de gratidão do beneficiado. Isuportável para alguns, o rosto do beneficiado se ilumina, uma luz que vem direto de Deus, eu acho. Nem todo mundo suporta essa luz. Por esse motivo se negam.
É muito para alguns.
Outra, fazer o bem nos coloca na prespectiva ótica da nossa própria insignificância.
Quem somos nós afinal?
Que importância temos, mesmo quando ocupamos posições de conforto e destaque na sociedade humana?
A verdade é que somos, materialmente, nada. Perecíveis como qualquer yorgute. Perecíveis como "presunto" que somos (independente de sermos light). Materialmente somos pouco mais que uma mortadela.
(O Rex gargalha e diz que eu não me emendo... Não mesmo, dinossauro!)
Fazer o bem, praticar a caridade, tentar mudar a realidade (dura e pesada) de uma só pessoa, nos dá a real dimensão disso. Reconhecer que o outro sofre de uma necessidade,nos faz ver que muitos mais sofrem e que nós também sofremos dessas necessidades e que talvez a nossa não seja atendida, por inúmeros motivos (é subjetiva, depende só de nós, é fictícia - o pior tipo ).
Não, não, não! Não gostamos disso!
Somos ricos, lindos, bonitos e joiados! Nosso mundo é perfeito! Nossa dor é maior que as meras dores dos outros! Nosso problema é maior!
Como gastar, então, pólvora com o cartucho alheio?
Vamos rezar por nós mesmos, não pelos outros.
Vamos guardar nossa solidariedade como bem pessoal e intrasferível.
Vamos nos apossar da verdade e da razão.
Vamos, em silêncio, verificar, avaliar, julgar e condenar a falta alheia.
Vamos mostrar nossa face Super...
"Enquanto isso, na sala da justiça..." quem quiser que se arrombe, por que não estamos nem ai!

E dessas coisa, rio eu, junto com o Rex, enquanto nos embriagamos de sol.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O trabalho da noite


A noite vestiu-se de estrelas. Estava contente, conseguira, com algum esforço, remendar outra vez aquele vestido de festa, tantas vezes usado e por isso mesmo absolutamente roto. Havia ocasiões que se vestia de cinza, quando recebia a visita da chuva. Mas, hoje deixou a lua apagadinha, só estrelinhas no seu velho vestido.
Dava pra enganar, principalmente sob as luzes da cidade, que cega os homens que a noite quer impressionar.
A ronda noturna tinha que começar.
Apressada, vestida ainda em seu robe azul claro, a noite esperava impaciente que o sol finalmente terminasse aquele tedioso espetáculo com que se despedia todos os dias. Ai, as pessoas repetitivas! Tão cansativas.
Quando o velho "astro-rei", o decadente Elvis celestial, foi se fazer travestí para o espetáculo (tedioso) da Aurora, do outro lado do mundo, a noite finalmente vestiu sua capa e foi à ronda.
Primeiro foi colher as esperanças das namoradas esquecidas, suas lágrimas de frustração, suas maldições ditas entre-dentes. Depois para as esposas atarefadas, cansadas de esperar atenção e emoção. A noite recolheu seus pensamentos dispersos.
A noite correu à casa dos velhos e recolheu suas dores reumáticas e suas lembranças falsas dos tempos de imaginada glória. Nos hospitais, a noite foi buscar a desesperança e a alegria, nas uti’s e salas de parto. Estas eram as estações que a noite mais gostava.
As rodoviárias e aeroportos eram tão fugazes! Partidas dali e daquizinho, tudo tão pertinho, o fio que produziam era tão fininho! Nos hospitais não, o fio era forte e bem igual, estações definitivas de chegada e partida, de bem-vindo e nunca-mais.
O desespero das mães que não sabem onde estão os filhos, as dores de dente, as febres malsãs.
A noite foi aos bares e cabarés, recolher as risadas tristes das prostitutas que têm a obrigação de serem alegres e dos freqüentadores que gargalham para ter como esconder a dor que lhes rasga o peito. Fosse sexta-feira, dia das amantes, ela recolheria a esperança das que querem ser esposas, mas sabem que não serão.
Madrugadinha, lá vem o velho travesti. O espetáculo da Aurora não tardaria e a noite ainda tinha muito o que fazer com os fios recolhidos na ronda; os fios que recolheu lhe dariam o mesmo trabalho que lhe dão a séculos, desde que o Bom Deus resolveu separá-la do dia; muito embora a noite reconheça que os fios que recolhe hoje são mais variados que os de antigamente, e o tecido que tece para vestir a vida – essa patroa exigente – fica cada dia mais tingido de sangue, suor e lágrimas.
Esse é o trabalho da noite, ser tecelã da vida que se vive.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O que é de nós?


O que é de nós?
Buscamos, antes de tudo a satisfação. Queremos estar satisfeitos, queremos estar em paz, queremos estar por dentro, por fora e em torno de nós, das nossas necessidades.
Necessidades contraditórias: quando a gente busca, o que desejamos, nos tira do circulo inquebrantável da paz de não querer.
Tantos filósofos já o disseram. Tantas religiões o pregam. O não-querer é a receita infalível da paz interior, o nirvana dos budistas, o objetivo dos espíritas e de todas as religiões e filosofias que entendem o homem como uma inteligência a serviço do universo. Entretanto, a gente quer, na nossa humanidade, na mera razão do existir, no centro de todas as coisas...a gente quer.
A gente quer prosperidade, abastança, e há aqueles que buscam isso inclusive com ajuda divina. Até porque não é só a abastança material que interessa, a gente quer também o reino dos céus...o nirvana, o paraíso de Alah, com direito a 11 mil virgens e rios de leite e mel, a gente quer a colônia espiritual onde poderemos conviver satisfeitos com espíritos iluminados.
A gente empreende, desde que nasce, uma verdadeira guerra em torno do que queremos. Isso para mim é fato, fato baseado em observação, dado de realidade.
Entretanto, não respondemos a essa pergunta que deveríamos ser instados a fazer desde a mais tenra idade:
O que queremos?
Desse questionamento surgem muitos outros, como uma rede bem tramada, que nos leva a buscar – devido a sua natureza prolixa e paradoxal - rotas de fuga abjetas, como religião, política e relacionamentos. Queremos dividir nossa dúvida, pensar na dúvida alheia, resolver problemas dos outros, com a finalidade única de escapar dessa rede que nos prende e nos obsta o caminho. Assim, eu me questiono, quando tenho coragem...e em geral ela me falta... nas respostas a algumas dessas perguntas:
O que quero? De que modo quero e o que poderia fazer para obter?
Até que ponto poderia ir para obter o que desejo?
De que tenho que abrir mão para obter o que desejo?
De que tenho medo?
A quem feriria para obter o que desejo?
Até que ponto eu me importo com os outros e seus desejos?
Porque eu deveria querer paz sempre?
Acredito firmemente, que a guerra justa é a guerra interior, aquela batalha sangrenta que travo comigo mesma diariamente e que me leva a algumas respostas – quando tenha coragem – e às vezes, também sinto que estou lutando inutilmente contra moinhos de vento criados por mim mesma, quixotescamente, sem a desculpa da insanidade.
Já travei tantas batalhas, já tenho tantas cicatrizes, que me pergunto se valeu à pena. Encontro sempre a mesma resposta: valeu sim!
Nesse percurso magoei e feri pessoas, meu coração comeu alguém, destruiu aldeias, fugiu de caçadores, é um tigre velho, feroz e resmungão, que tem uma terrível dificuldade de comunicar-se; nestas mal traçadas linhas da minha trajetória há o eu e o duplo do meu eu, que tive que criar para poder obter o mínimo de comunicabilidade com os outros, o meu eu fala um dialeto estranho, algo como sânscrito. O duplo do meu eu fala com as pessoas e eu mesma considero que fala demais. A ninguém mostro o meu eu e o duplo do meu eu também tem duas faces, como Janus, a face sorridente para alguns, a face séria para menos ainda.
Nesse percurso a minha crítica é uma lança afiada, um punhal certeiro, uma besta sempre apontada para as demais pessoas, que eu, com o tempo, aprendi a disfarçar e com mais tempo ainda, a não acionar, a não ser em casos de extremíssima necessidade. Infelizmente, para mim, sobretudo, não aprendi nunca a entrar num ambiente qualquer se analisar, fria como um iceberg, todos os que estão a minha volta. Isso me torna uma pária, porque antecipadamente vejo quem são as pessoas, sinto-lhes a fraqueza, a humanidade e, com grande choque, sinto também o quanto elas não sabem disso.
Mania infeliz das pessoas estarem sempre buscando o reflexo do “eu” nos outros. Com que freqüência as pessoas vivem refletindo seus sentimentos, desejos, questionamentos e buscas pessoais nos demais! Como acham, como eu um dia já achei, que os outros pensam sobre nós o que mostramos e que, por isso, darão as respostas exatas às perguntas que fazemos!
Engano terrível, cometido por mim também freqüentemente – só a pouco verifiquei a tolice que isso representa – em relação às pessoas com quem convivo, diária ou eventualmente.
Quando buscamos o que somos, nos outros, recebemos os outros e tudo que lhes é próprio como realidade e assim nos perdemos neles, bem como eles em nós. Viramos bois que se refletem no próprio rebanho. Carneiros que berram juntos.
Não estaremos satisfeitos, nem obteremos paz! Eu creio nisso. Não há meio de a inteligência – no sentido de responder as nossas buscas pessoais - ser detida por meio de freios colocados em nome de Deus, do diabo ou da ciência.
Somos, nós os humanos, teimosos em essência – deve ser herança divina – não somos racionais.
Racionais são os leões que sabem que para sobreviver tem a necessidade de selecionar o que caçam, como se defendem e com que freqüência se reproduzem.
Nós somos seres “buscantes”, mas de nós mesmos. E isso não é elogio ao egoísmo, é apenas uma constatação. Somos egoístas à medida que os outros esperam de nós e não damos. Os outros são egoístas, em relação a nós, na medida em que esperamos e os outros não dão.
Acredito no senso moral do cristianismo: aos outros como a nós mesmos e isso é tão logicamente egoísta, para mim. Se um dia, entendi isso de forma diferente foi porque seu significado não é o propriamente esclarecido. Aos outros como a nós significa apenas que não deveríamos buscar, nos outros, os nossos desejos, mas em nós mesmos. O melhor de nós pode não ser suficiente para os outros, mas será para nós.

sábado, 18 de julho de 2009

Velha fórmula

Nada de bom pode sair de minha lavra quando escuto Resposta ao Tempo, de Aldir Blanc, na voz de veludo de Nana.
Há em todas as pessoas o gosto pela tragédia, a vontade de viver um amor tão grande que esfacele o coração.
Ai de quem não viveu um grande amor. Ele inventará para si mesmo que ele existiu, mesmo que não passasse de um olhar furtivo, através da janela. Casado, deixará a esposa ou o marido, na eterna dúvida de não ser o primeiro e único amor. Solteiro, nunca estará inteiramente disponível, por que esse amor que criou tomará todo espaço disponível do coração.
É um amor irrealizado, portanto perfeito, onde se sofre bela e dignamente, onde o perfume das rosas mortas acompanhará o enterro da paixão as tantas mil vezes que ela morrer, para renascer mais forte.
Não há dignidade alguma num banco de fórum onde o “meu bem” é substituído pelos “meus bens”, com direito a xingamentos e partilhas.
Mas, nesse amor irrealizado, irreal, que a gente inventa na adolescência, para almofadar o coração de pedra que surgirá invariavelmente quando se fanarem os sonhos é sempre perfeito. Com direito a comédia, a tragédia, ao afogamento, ao vôo.
No parceiro real não há beleza, não há nenhum super poder. Somente e tão somente aquela criatura patética, que surge após o segundo ano de casamento que defeca, peida e cutuca os dentes. Que dorme de boca aberta e baba o travesseiro. Por mais horror que pareça, somos humanos, somos assim, “todos tendes intestinos e, no final deste, um lamentável cú, que os envergonha”. Mas, quem é que pode manter uma paixão perfeita, se o outro insiste em se coçar? Em comer? Em ficar bêbado? E limpar as unhas do pé?
O T-Rex surge agora, meio espantado, com sua indefectível sobrancelha, altiva e inglesa, perguntando o que vem a ser esse derrame insano de palavras.
Sei lá, Rex! É constatação.
Só se pode amar de mentira, como propõem os filmes e livros. Li recentemente uma obra voltada para adolescente, e que está muito em moda, (O Crepúsculo e sua continuação). Divertiu-me imensamente o fato de que os personagens parecem sempre estar à beira de um ataque fulminante de amor, e que é muito conveniente a forma vampiresca do personagem central. Mas, quem não gostaria de não envelhecer e nem morrer (no caso dele, de novo? (exceto eu, que acho isso uma tara fraca)
A mocinha tá dando um monte pra ser vampira também. Enfim, um vampiresco conto shakespereano, uma velha forma já tão usada, e nunca gasta, mudam os personagens, muda o cenário, muda o estilo, mas o fundo da estória é sempre o mesmo: uma velha fórmula shakespereana.
O T-Rex me observa chocadíssimo, vestido em seu robe de seda. Balança a cabeça numa indefectível rejeição aos meus argumentos. Critica-me seriamente: atrevo-me a criticar Shakespeare?
Não, Rex, eu até gosto dele. Mas, que ele inventou ou pelo menos divulgou o Grande Sonho Adolescente, é incontestável.
O problema é que ele não previu que crescemos, amadurecemos e carregamos, para sempre, conosco nossos sonhos.

sábado, 20 de junho de 2009

Mas, eu to falando de amor

Acho digno, mas radical, quando dizem "eu não vou amar nunca mais".
Na verdade, quem fala assim não está bem falando de amor, mas dessa "doença" que nos ataca na juventude e se chama "emoção desenfreada". Tenho visto isso nas minhas horas de observação divertida da juventude à minha volta. (O Rex acha isso maçante ao cubo e cochila)
Na juventude somos emocionalmente suicídas, queremos é uma bela tragédia, depois de uma sessão de sexo tórrido e chamamos isso de "amor"...a gente enfeita isso com borboletas, coraçõezinhos e anjinhos, mas na verdade a vida afetivo/sexual dos adolescentes, e de alguns pseudo-adultos, trintões passados e e outros "ões", para ser democrática, está mais para um filme pornô-gótico, meio punk, meio grounge (é assim que escreve o nome do estilo do Nirvana?). Curt Cobain foi o papa dessa história de "eu te amo até morrer, mas primeiro vamos transar muito".
Amor é um sentimento tranquilo e libertador, que pode ou não envolver sexo, mas que, sobretudo, envolve conforto, apoio e consideração. Quem ama não trai, por que não sente necessidade; não mata, por que prefere abrir mão da pessoa que prejudicá-la, e por ai vai.
Acho que um dia a gente acaba amando de verdade e gostando disso, já que trepar todo mundo já sabe e muitas vezes dá é uma preguiça miserável, pelo visto. (O Rex me adverte sobre a linguagem chula....vá se danar, dinossauro metido! Ah, para quem não sabe ele vive dentro da minha cabeça, é um crítico severo, pior que o finado Paulo Francis. Por ele eu não escrevia...mas, eu nem ligo e escrevo.)
Sexo a gente conhece por instinto, todo mundo sabe trepar...amar a gente vai aprendendo, vai adquirindo a módicas prestações, como um consórcio. Quanto maior a prestação melhor o carro, mais depressa vem.
Essa é minha opinião. Mas, ela não corresponde necessariamente a nenhuma outra verdade que não a minha mesmo. Já tive dezoito anos, já mergulhei fundo no poço escuro e úmido das paixões sem futuro, já tive emoções desenfreadas; já fui ávida e tive fome e sede de viver loucamente, como qualquer vampiro.
Já fiz meus "pornôs" (O Rex levanta sua sobrancelha deviniveana, assombrado), já chorei e me descabelei de coração partido.
Mas, cresci. Amei de verdade, deixei esse amor ir quando acabou sem maiores traumas que umas pequenas lágrimas. Vivo hoje um amor cheio da tranquilidade das tardes de domigo - daquelas de chuva, com filme, pipoca e refri - do calor das meias velhas para pés que desejam conforto e não beleza, do sexo que satisfaz sem que precisemos abrir o livro do Kama-Sutra, sem os traumatismo musculares decorrentes. Apenas prazer tranquilo e sono bom depois.
Acredito que todos um dia amarão assim. Mesmo os que hoje dizem: "eu não quero amar nunca mais!"


(O Rex lembra dos que, durante a ressaca, juram nunca mais tocar em bebida alcóolica, com uma sinceridade que só dura até a próxima farra... verdade, Rex, arrasou!)