sábado, 18 de julho de 2009

Velha fórmula

Nada de bom pode sair de minha lavra quando escuto Resposta ao Tempo, de Aldir Blanc, na voz de veludo de Nana.
Há em todas as pessoas o gosto pela tragédia, a vontade de viver um amor tão grande que esfacele o coração.
Ai de quem não viveu um grande amor. Ele inventará para si mesmo que ele existiu, mesmo que não passasse de um olhar furtivo, através da janela. Casado, deixará a esposa ou o marido, na eterna dúvida de não ser o primeiro e único amor. Solteiro, nunca estará inteiramente disponível, por que esse amor que criou tomará todo espaço disponível do coração.
É um amor irrealizado, portanto perfeito, onde se sofre bela e dignamente, onde o perfume das rosas mortas acompanhará o enterro da paixão as tantas mil vezes que ela morrer, para renascer mais forte.
Não há dignidade alguma num banco de fórum onde o “meu bem” é substituído pelos “meus bens”, com direito a xingamentos e partilhas.
Mas, nesse amor irrealizado, irreal, que a gente inventa na adolescência, para almofadar o coração de pedra que surgirá invariavelmente quando se fanarem os sonhos é sempre perfeito. Com direito a comédia, a tragédia, ao afogamento, ao vôo.
No parceiro real não há beleza, não há nenhum super poder. Somente e tão somente aquela criatura patética, que surge após o segundo ano de casamento que defeca, peida e cutuca os dentes. Que dorme de boca aberta e baba o travesseiro. Por mais horror que pareça, somos humanos, somos assim, “todos tendes intestinos e, no final deste, um lamentável cú, que os envergonha”. Mas, quem é que pode manter uma paixão perfeita, se o outro insiste em se coçar? Em comer? Em ficar bêbado? E limpar as unhas do pé?
O T-Rex surge agora, meio espantado, com sua indefectível sobrancelha, altiva e inglesa, perguntando o que vem a ser esse derrame insano de palavras.
Sei lá, Rex! É constatação.
Só se pode amar de mentira, como propõem os filmes e livros. Li recentemente uma obra voltada para adolescente, e que está muito em moda, (O Crepúsculo e sua continuação). Divertiu-me imensamente o fato de que os personagens parecem sempre estar à beira de um ataque fulminante de amor, e que é muito conveniente a forma vampiresca do personagem central. Mas, quem não gostaria de não envelhecer e nem morrer (no caso dele, de novo? (exceto eu, que acho isso uma tara fraca)
A mocinha tá dando um monte pra ser vampira também. Enfim, um vampiresco conto shakespereano, uma velha forma já tão usada, e nunca gasta, mudam os personagens, muda o cenário, muda o estilo, mas o fundo da estória é sempre o mesmo: uma velha fórmula shakespereana.
O T-Rex me observa chocadíssimo, vestido em seu robe de seda. Balança a cabeça numa indefectível rejeição aos meus argumentos. Critica-me seriamente: atrevo-me a criticar Shakespeare?
Não, Rex, eu até gosto dele. Mas, que ele inventou ou pelo menos divulgou o Grande Sonho Adolescente, é incontestável.
O problema é que ele não previu que crescemos, amadurecemos e carregamos, para sempre, conosco nossos sonhos.

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